Representantes em empresas e organizações com papel de destaque durante a pandemia discutiram avanços e gargalos no Fórum de Economia CNN
Rene Silva, Aloisio Matos, Tânia Cosentino, Fabrício Bloisi e José Seripieri Filho participam do Fórum de Economia CNN Ricardo Godoy
Por esta altura, já se trata de uma unanimidade: ter que ficar em casa por mais de um ano durante uma pandemia global só foi possível por conta do avanço da tecnologia e suas mais diversas aplicações nos nossos afazeres.
Foi exatamente isso que o painel “A tecnologia foi essencial na pandemia”, comandado por Márcio Gomes durante o “Fórum de Economia CNN – Os desafios de um Brasil essencial”, abordou em diferentes setores e camadas da população.
A lista de painelistas mostra exatamente essa amplitude: Edu Lyra, fundador e CEO da Gerando Falcões, Rene Silva, criador do Voz das Comunidades, Fabrício Bloisi, CEO do iFood; Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil, Aloisio Matos, head de operações da Usend no Brasil e José Seripieri Filho, CEO da Qsaúde.
Sobrevivência
Antes de qualquer coisa, a pandemia do novo coronavírus colocou a vida da população mundial em risco de duas maneiras diferentes: a primeira delas, obviamente, pela possibilidade de infecção e desenvolvimento de uma versão mais grave da doença, que vitimou milhões de pessoas.
Rene Silva, do Voz das Comunidades, jornal comunitário criado em 2005 no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, contou que os moradores das favelas não tinham uma dimensão real do problema, pois não havia dados segmentados sobre o avanço do vírus para suas regiões.
“Não tínhamos dados sobre o avanço da Covid nas favelas, então fizemos contato com as entidades de saúde para levantar dados e criar um painel. Assim surgiu o app da Voz das Comunidades, que também se tornou importante para combater a desinformação sobre o tema. Assim chegamos à nossa e a outras comunidades do Rio”, disse.
Mesmo para aqueles que possuem plano de saúde, a rotina precisou mudar em nome da segurança. “A pandemia enclausurou a população e permitiu o avanço da telemedicina. É claro que tem uma questão limítrofe em termos de exames clínicos e laboratoriais, mas vai baratear o sistema”, afirmou José Seripieri Filho, que fundou a Qsaúde em 2020.
Uma parcela mais fragilizada dos brasileiros também viu a fome se aproximar. “Havia preocupação com a economia de favela, que não é resiliente, é frágil.
Criamos uma cesta básica digital, que é um cartão com recarga mensal de R$ 150 e entregamos para chefes de família. Assim, alimentamos 1 milhão de pessoas”, contou Lyra, da Gerando Falcões.
Adaptação
Houve ainda, durante o período de quarentena, a necessidade de trazer o trabalho para casa ou, mais profundamente, fazer de casa um trabalho. Exemplo disso, os aplicativos de delivery se tornaram um serviço essencial e deram subsistência para milhões de pessoas que já trabalham ou não no setor.
“Tivemos que atender 40 milhões de pessoas, centenas de milhares de entregadores e 270 mil restaurantes, para os quais adiantamos R$ 14 bilhões. Mas a história mais legal é que estes pequenos negócios passaram a usar o WhatsApp e apps como o iFood para ganhar dinheiro”, disse Fabrício Bloisi, CEO do iFood.
Outros setores, como a educação, também tiveram desafios para manter seu funcionamento em modo caseiro. Com este desafio, e o mercado financeiro reconheceu isso, as Big Techs tiveram papel fundamental na aceleração da disponibilidade de produtos como a nuvem para o mercado.
“A nuvem ajuda a expandir um negócio de forma mais rápida e, no caso das escolas, permitiu a continuidade dos estudos à distância. Internamente, dizemos que avançamos dez anos nos primeiros dez meses de pandemia. Agora precisamos reimaginar o futuro”, afirmou Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil.
Naturalmente, todos estes movimentos fizeram com que os fluxos de dinheiro mudassem similarmente de padrão. A Usend, empresa especializada na oferta de serviços financeiros e não-financeiros no mercado americano, sentiu isso de duas formas em relação aos seus clientes brasileiros.
“Tivemos um primeiro movimento de brasileiros que moram nos EUA mandando dinheiro para o Brasil. E depois um outro perfil, composto principalmente por profissionais de tech que estão trabalhando remotamente em empresas internacionais em recebendo em dólar”, comentou Aloisio Matos, head de operações da empresa no Brasil.
Investindo no futuro
Mas, se houve consenso entre os participantes sobre os rápidos avanços tecnológicos conquistados num momento tão difícil, também é inequívoca a necessidade de replicar e escalar este modelo de forma sustentável, para que o país possa avançar de fato em pautas importantes.
“A principal barreira hoje nem é infraestrutura, porque a tecnologia de nuvem permite igualar isso. O grande bloqueador de desenvolvimento no Brasil é a [falta de] capacitação profissional. Precisamos acelerar a adoção de tech para não ficar para trás”, disse Cosentino, da Microsoft.
Para Matos, da Usend, há bons modelos lá fora que podem ajudar a formar mais profissionais no país antes do nível superior. “Nos EUA, os colégios têm áreas profissionalizantes e ensinam marcenaria, serralheria, programação. Quando sai da escola, o jovem pode ir para a faculdade ou começar a trabalhar. Podemos trazer um pouco disso, olhando cada vez mais para tech”, argumentou.
Bloisi, do iFood, corroborou o sentimento e desafiou os líderes presentes no painel a desenvolver um consórcio para criar um laboratório de tecnologia no Complexo do Alemão, com objetivo de capacitar até 10 mil pessoas da região. “Sou otimista. Estamos perdendo profissionais para o mercado internacional ou estamos ganhando o mercado lá fora?”
Nessa linha, Silva defendeu a fortificação deste tipo de iniciativa. “A favela sempre foi uma potência, mas falta acesso para que as pessoas cresçam. Se você colocar focos de tech nas comunidades, daqui cinco, dez anos vamos ter muita gente saindo de lá preparadas para exercer suas profissões”, disse. Assim como Lyra, que cobra “coragem, garra, resiliência para fazer coisas grandes e entregar saltos de desenvolvimento”.
Paralelamente a este investimento, Seripieri, da Qsaúde, entende que também é preciso desburocratizar o país. “Somos um mercado de enorme potencial, que precisa de escala e de consumo. O estado tem que atuar onde há miserabilidade e atrapalhar menos em questões regulatórias.”
Fonte: CNN Brasil